No caso das gravíssimas denúncias de Tuma Jr., Lula, o Planalto e o PT tentam a mesma estratégia do Rosegate

Carlos Newton

As acusações são graves demais para passarem despercebidas. Desta vez, não vai adiantar insistir na estratégia que Lula, o governo e PT têm usado com eficiência para se livrar de denúncias pesadas, como aconteceu no chamado caso Rosegate. Na época (final de 2012), o PT blindou Lula no Congresso, evitando a convocação de qualquer depoente que pudesse tocar no assunto, e o próprio Lula passou alguns meses longe da imprensa, saindo pela porta dos fundos e até pela lavanderia de hotéis, quando estava no exterior.

Lula não falava sobre o assunto, o PT também se fechou em copas, e o governo fingiu que nada tinha a ver com o assunto, embora Rosemary Noronha fosse funcionária direta de Dilma Rousseff, na condição de chefe do Gabinete da Presidência da República em São Paulo. E o Planalto aproveitou bem a oportunidade, ao “vazar” muitas notícias sobre os atos de corrupção da namorada do ex-presidente, visando a desestabilizá-lo e afastar qualquer possibilidade de candidatura de Lula à sucessão de Dilma Rousseff, conforme era (e ainda é) intenção dele.

No Rosegate, a estratégia deu certo para Lula, para o PT e para o governo, que até agora ainda funcionam mais ou menos como uma coisa só, uma espécie de “santíssima trindade” político-partidária (no mau sentido, claro). Um ano depois, ninguém fala mais em Rosemary Noronha, a segunda-primeira-dama, que acompanhou o então presidente em cerca de 30 viagens ao exterior, no período de apenas um ano e meio, e fazia negócios escusos como chefe do Gabinete da Presidência.


INIMIGOS CORDIAIS

Hoje, Lula e sua sucessora estão cada vez mais distantes, embora tentem manter as aparências. São inimigos cordiais, digamos assim, porque acima de suas divergências está a necessidade de se preservar no poder, seja com Lula ou com Dilma, que continua e continuará obedecendo as ordens dele, se for reeleita, claro.

Mas agora as denúncias do ex-secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr. são gravíssimas e não podem deixar de ser respondidas. Como se sabe, no programa Roda Viva, Tuma Jr. insistiu em afirmar que Lula era informante do DOPS no governo militar e garantiu ter provas dessa desclassificante acusação. Tuma também voltou a acusar o governo de ter montado uma “fábrica de dossiês” governista para atingir adversários, reabriu o caso Celso Daniel e os grampos no Supremo, o programa foi um verdadeiro festival.

SILÊNCIO TOTAL

Lula nada diz, os dirigentes, ministros, governadores e parlamentares do PT também estão em silêncio, o assunto está blindado no Congresso. Mas acontece que Tuma Jr. está escrevendo o segundo livro, no qual promete divulgar as provas que conseguiu colher, inclusive as obtidas nos arquivos do DOPS paulista, sobre as relações de Lula com os militares e policiais de São Paulo,

Já se sabia das ligações de Lula com o general Golbery do Coutto e Silva, o principal estrategista do regime militar, que incentivou a ascensão do líder sindical e a criação do PT, para neutralizar Leonel Brizola e impedir que ele chegasse à Presidência. Mas ninguém tinha comprovação de que Lula realmente tinha agido como agente duplo e era informante do DOPS paulista, sob o codinome Barba. Agora tudo pode vir à tona, porque muitas testemunhas deste fato ainda estão vivas.

Por enquanto, o que se pode dizer é que o silêncio de Lula é ensurdecedor. E também constrangedor.